Ontem fomos ver as
marchas infantis, sendo que numa delas saíram os nossos netos.
Depois de uma pequena
volta pelas ruas da cidade, fomos deixa-los com os responsáveis pela marcha em
que estavam inseridos.
Viemos até um pouco antes
da Sé e, sentamo-nos no passeio para aguardar a passagem das marchas. Ao lado
estava um casal com a sua filha que não devia ter mais de 5/6 anos de idade. A
dada altura a menina pediu à mãe bolachas, ao que esta respondeu que não.
Como tínhamos comprado
para os nossos e ainda tinhas uns saquinhos, pedi à minha mulher que me desse
um para dar à menina, uma vez que ela é que tinha na sua mochila.
Quando fui para dar a
mãe dela disse que não, mas agradeceu o gesto. Disse que ela não comia as
bolachas, porque tinham vindo de um restaurante e ela não tinha querido comer
nada, como tal, também não ia comer as bolachas que lhe ofereci. Acrescentou
ainda que se lhe fizesse tudo o que queria, tornar-se-ia numa pequena ditadora.
Confesso que achei o termo demasiado forte, contudo, depois de me ter explicado
que “- se fizermos tudo o que as crianças querem e pedem, começariam a ser uns
pequenos ditadores”, aceitei a sua argumentação.
As marchas ainda
tardavam a chegar e fiquei a pensar neste assunto um pouco, enquanto a minha
mulher conversava com a nossa nora.
Desta situação tirei
duas conclusões:
- Realmente as crianças
têm que ser ensinadas que nem tudo podem ter, mesmo que os pais sejam
abastados, não só para saberem o valor das coisas como, especialmente, assimilarem
a palavra “não”. No decurso das suas vidas muitos nãos irão ouvir, e se não
aprenderem enquanto crianças ou jovens, mais tarde poderão ter sérios problemas
por, na devida altura do seu crescimento, não tiverem sido educados para rejeições.
Nos dias de hoje, muitos pais e avós, por razões diversas, dão tudo o que as
crianças querem, sem pensarem nas consequências que isso possa trazer no futuro,
aliás, ao fazerem isso, a mãe ou avó (por norma) tornam-se nas 1ºs vítimas.
Amar os filhos e os netos, passa por lhes incutir valores e regras, que também
passam por dar apenas aquilo que devem ter e no momento certo.
- O pai da menina que
também ali estava, nunca disse nada. Na situação em concreto, dou-lhe os
parabéns porque, mesmo que pudesse pensar de outra forma ou achasse que a
mulher não tinha razão, não fez qualquer reparo perante a filha. Muitos são os
pais que em frente aos filhos, dão opiniões contrárias em relação à sua
educação e crescimento dos mesmos, fazendo com que estes se apercebam e sabiam
a quem pedir isto ou aquilo em detrimento daquele ou daquela que é menos
acessível. Ainda que pensem de forma diferente um do outro, em determinados
assuntos e em relação aos seus filhos, não o devem demonstrar perante eles, ou
seja, a criança não deve aperceber-se que um é mais acessível que o outro.
A dada altura a mãe
disse-lhe que tinha sumo de fruta e se queria. A menina disse que sim e bebeu,
se sequer falar nas bolachas.
Estes pais, tal como
muitos outros, a continuarem assim, os seus filhos, num futuro não muito
distante, saberão gerir as suas emoções e frustrações.
Termino com uma frase
que ouvi há alguns anos:
“- Os pais devem agir
como adultos educadores, ou seja, os pais devem ser pais e não os melhores
amigos deles”.
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