sexta-feira, abril 30, 2004

Máquina do Tempo

As ondas vão e vêm em tons de azul celeste neste mar imenso. Nesta praia de areias negras com esta visão pela frente, além de mim encontra-se um rapaz com cerca de 7 anos. Está sentado e de quando em vez atira uma pedra para a água para ver o seu efeito.
Apenas uma pequena pedra é o bastante para desencadear uma tempestade constante que, não só não quer terminar, como cada dia que passa aumenta mais e mais, originando, por vezes, tempestades com gigantescas vagas do tamanho de um preconceito, de uma ideia, de um grito mudo ou de uma cor... apenas uma pequena pedra.
Eu e ele, ele e eu, somos os únicos que estamos aqui, ali.
Ele pensa aquilo que eu já pensei quando tinha a sua idade. Todas as suas incertezas já eu as tive.
Mais uma pedra é atirada à água. Mais uma vez o seu efeito é o mesmo. Círculos atrás de círculos, atrás de círculos...
Gostava de ter a idade que ele tem e saber o que sei hoje, mas isso é impossível. Gostava de lhe transmitir todo o meu conhecimento, mas não posso. Gostava de lhe dizer que as coisas vão melhorar, apesar de tudo, mas não consigo.
Outra pequena pedra é lançada no azul do céu e devido às leis imutáveis da gravidade, cai no azul do mar.
Sete anos se passaram para o rapaz que ali está que, podia nem sequer ter visto a luz do dia devido a erros de outros.

quinta-feira, abril 29, 2004

Carta com sabor a mar

Ontem, ao revirar coisas antigas, encontrei esta carta. Carta que escrevi em 7 de Setembro de 2000, depois de ter trazido às festas de verão donde vivo o Palhaço Croquete e, apeteceu-me passá-la a limpo para aqui.



"Caro Amigo António,

Faço votos para que ao receber esta minha carta, a mesma o vá encontrar de boa saúde em companhia da restante família, que nós os três por cá vamos bem na graça de Deus.
Ainda que por poucas horas, foi um privilégio, para mim, tê-lo conhecido a si e ao seu amigo Croquete.
Senti-me honrado ter podido conversar consigo sobre vários assuntos, sobre tudo e sobre nada, sobre a sua vida pessoal e familiar, sobre a sua vida profissional.
Para mim, o Croquete não é um palhaço como os outros, e que me perdoem esses outros. Para mim o Croquete é um palhaço que educa, um palhaço que instrui.
Não é aquele palhaço que faz rir as crianças a troco de um tropeção ou de uma queda premeditada,
Não é aquele palhaço que diz uma piada fácil,
Não é aquele palhaço que ao acabar o espectáculo, esquece-se das crianças presentes e acabada “palhaçada”.
É difícil, no dia-a-dia em que vivemos ver alguém, que apesar dos seus problemas, dúvidas, anseios, medos, alegrias e sonhos, ficar fechado num camarim durante 1 ou 2 horas e dar o seu lugar a outra pessoa para ir ao palco dar um pouco de alegria e felicidade a quem está presente, sobretudo crianças. Deve ser difícil ao António ficar fechado e deixar ir por si o Croquete. Apesar de, por vezes a sociedade não o reconhecer, não são muitos que fazem aquilo que faz, e não me refiro às pinturas, à roupa, aos adereços.
Refiro-me ao facto de ser capaz de dar sem pedir nada em troca.
Refiro-me ao facto de, apesar de estar a chover, ficar no palco, como se estivesse numa esplanada a beber uma água mineral num dia de Verão.
Refiro-me ao facto de apesar de faltarem adereços, improvisá-los do nada.
Não, não estou a pô-lo num pedestal. Para pôr num pedestal já temos santos que chegue. Simplesmente estou a escrever aquilo que penso. Porquê?
Porque...

Sabes Croquete, o que mais me tocou e que mais de deu que pensar, foi teres-me dito que um dia quando estavas a fazer um espectáculo numa escola, uma das crianças ter tido um acidente com alguma gravidade, e ter ido para o Hospital, sem se saber se escapava ou não. Bem, não foi bem isso, foi pelo facto de apesar de seres brincalhão, a criança que já fomos e dificilmente voltaremos a ser, de fazeres sonhar as crianças com um mundo melhor, de fazeres sorrir a quem por vezes só apetece chorar, teres tido a coragem de teres ido ao camarim buscar o António e, os dois de mão dada, terem rezado, ali, ao pé das crianças pelas melhoras daquela que minutos antes estava ali para te ver.
Nos dias que correm, são poucos os “Croquetes” que dão a mão aos “Antónios”,
São poucos aqueles que tentam ajudar o próximo,
São poucos aqueles que agasalham os que têm frio,
São poucos aqueles que dão de comer a quem tem fome,
São poucos aqueles que dão guarida a quem não tem um tecto.
É triste saber e ver que os “Croquetes” preferem continuar a ser “Croquetes”, ao invés de darem as mãos aos “Antónios” e, juntos fazerem
Um mundo melhor,
Um mundo onde aja Paz,
Um mundo onde aja Amor,
Um mundo onde aja Compreensão.
Sim, porque são muito poucas aquelas pessoas que não usam “pinturas” e mostram aquilo que realmente são.
Eu sei que nesta altura o teu amigo António deve estar a rir disto que te estou a dizer, deve estar a pensar que isso é uma utopia. É capaz de ter razão, quem sabe, mas também não será uma utopia alguém querer ser duas pessoas ao mesmo tempo, não será uma utopia alguém ser António numa altura e noutra altura ser o Croquete. É bem possível, mas apesar de ser uma utopia, o facto é que é real, e melhor que isso, resulta. Então será que a minha utopia não poderá ser real e resultar?
Sabes Croquete, já deves estar farto de ler esta minha carta que mais parece uma aula de moral e bons costumes, mas por vezes tenho estas fraquezas, por vezes penso que consigo mudar o mundo, por vezes penso que amanhã tudo de mau e negativo vai acabar e, dar lugar a tudo de bom e positivo, por vezes penso...
Olha Croquete, por agora é só. Espero que não tenhas ficado chateado ou ofendido com alguma coisa que te tenha dito ou feito durante o tempo que estiveste nas festas em que eu era um dos responsáveis. Espero que tenhas gostado deste pedaço de verde rodeado de azul.
Ah! Já me ia esquecendo, dá um abraço por nós ao António e restante família, e já agora, vai dando noticias e volta sempre que quiseres.


Um abraço dos três estarolas,"

Apresentação

Depois de ler e reler inúmeros Blogs, uns melhores e outros nem por isso, uns com fotografias e outros sem, lembrei-me de também eu, porque não, criar um Diário assim virtual. É claro que sou mais adepto do papel e da caneca mas, aqui não se gasta papel, tinta e dinheiro.
Não sei o que será deste Diário, se terá futuro ou não, nem tão pouco sei se irá passar do primeiro dia mas, vamos em frente e ver no que dará.
Dei-lhe este nome, porque sempre achei esta historia escrita por Richard Bach, um marco na literatura, tal como é o “Princepezinho”. Ambas são historias simples, banais por vezes, mas com um conteúdo riquíssimo, com muito para se dizer e mais para se pensar.
Também optei por este servidor de blogs porque, ao contrário de outros, este não dá para comentar, pelo menos por aqui e, como tal, acho-o mais perto dos ditos diários, onde se escreve o que nos vai na alma e ninguém nos condenará ou apoiará aquilo que escrevermos.
Bem, acho que para começo já chega, amanhã talvez volte aqui e, deixar mais alguns dos meus pensamentos, fantasmas, alegrias, tristezas, em suma, um pouco de mim.