Ontem atendi uma pessoa que estava um pouco consternada por
ter tido conhecimento que iriam tirar as ossadas do seu pai da campa onde se
encontrava, por esta não ser concessionada por alguém de família, isto é, após
o tempo previsto, os ossos têm de ser retirados da campa.
Ainda pus as várias opções previstas para situações
semelhantes. Adquirir a campa pelo valor previsto ou um ossário que custa
metade do preço da campa e, que podia pagar em algumas prestações. Tendo em
conta vários fatores que não são para aqui chamados, com muita pena dela não
lhe era possível.
As lagrimas teimavam em bailar na sua cara quando pediu se
era possível despedir-se quando os retirassem da campa.
Depois de contactado o responsável, este disse ser possível e
a pessoa agradeceu, contudo via-se uma tristeza de alma nela. Ainda tentei
amenizar a situação dizendo que o que sentimos no coração pela pessoa que
partiu é mais importante do que os ossos ali existentes, mas ainda falta muito
para nos habituarmos a essa ideia. Que o mais importante é a Alma e essa voltou
para a casa do Pai e os ossos voltam ao pó do qual fomos criados, mas ainda
temos muito caminho para percorrer.
Apesar da minha função ser ajudar as pessoas, dentro do que
me é possível, naquele momento senti-me impotente e naquele momento pensei:
“– Se tivesse algumas pessoas que contribuíssem para a
aquisição do ossário…”.
“Quando deres esmola, que a tua mão esquerda não saiba o que
faz a tua mão direita, de modo que a tua esmola fique oculta. E
o teu Pai, que vê o que está oculto, te dará a recompensa.”
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