quarta-feira, novembro 22, 2023

Que a tua mão esquerda não saiba o que faz a tua mão direita





Ontem atendi uma pessoa que estava um pouco consternada por ter tido conhecimento que iriam tirar as ossadas do seu pai da campa onde se encontrava, por esta não ser concessionada por alguém de família, isto é, após o tempo previsto, os ossos têm de ser retirados da campa.

Ainda pus as várias opções previstas para situações semelhantes. Adquirir a campa pelo valor previsto ou um ossário que custa metade do preço da campa e, que podia pagar em algumas prestações. Tendo em conta vários fatores que não são para aqui chamados, com muita pena dela não lhe era possível.

As lagrimas teimavam em bailar na sua cara quando pediu se era possível despedir-se quando os retirassem da campa.

Depois de contactado o responsável, este disse ser possível e a pessoa agradeceu, contudo via-se uma tristeza de alma nela. Ainda tentei amenizar a situação dizendo que o que sentimos no coração pela pessoa que partiu é mais importante do que os ossos ali existentes, mas ainda falta muito para nos habituarmos a essa ideia. Que o mais importante é a Alma e essa voltou para a casa do Pai e os ossos voltam ao pó do qual fomos criados, mas ainda temos muito caminho para percorrer.

Apesar da minha função ser ajudar as pessoas, dentro do que me é possível, naquele momento senti-me impotente e naquele momento pensei:

“– Se tivesse algumas pessoas que contribuíssem para a aquisição do ossário…”.

“Quando deres esmola, que a tua mão esquerda não saiba o que faz a tua mão direita, de modo que a tua esmola fique oculta. E o teu Pai, que vê o que está oculto, te dará a recompensa.”