quinta-feira, março 03, 2005

Postal de Lisboa


É madrugada
O sol começa a acordar aos poucos
Uma gaivota paira no ar
Um cacilheiro atravessa o rio
em direcção à outra margem
Uma criança brinca com uma pedrinha sem forma
Um cego pede esmola enquanto toca desafinado um violino corroído pelo tempo
As pessoas como formigas andam sem destino
Os laranjas tal como latas de sardinha
vão carregados até mais não puderem


Meio dia
Hora de almoço
sandes, yogurtes versão lite
mini pratos
Comer em pé, a correr e sem sabor
Ciganos a tentar vender coisas fabulosas
a preços mini
Montras
Leitura das gordas dos jornais
Um cigarro na ponta da boca
Correria, tropeços, embates
Relógio de ponto


Seis horas
Fim de mais um dia de trabalho
Saída a correr
Filas e mais filas
Suspiros
Sovacos húmidos
Suor, transpiração
Pressão
Sacos com produtos essenciais
Hora e meia por 10 km
Crianças pela mão
Trabalhos de casa
Jantar
Banhos, televisão
Ausência de diálogo
Xixi cama


Noite
Bares, cafés, pubs, discotecas
Cinemas, teatros, estúdios
Taxis, carros suspeitos
Poucas pessoas na rua
Locais propícios a vícios e virtudes
Sem-abrigos num vão de escada


Madrugada
Casal Ventoso
Bairro Alto
Avenida da Liberdade
Prostitutas, travestis, proxenetas, pedófilos
Respiradouros do metro a cheirar a cola
Policias, ladrões e nem por isso
Sonhos cor de rosa outros sem qualquer cor

23 de Outubro de 2003
Posted by Hello

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