Fiquei frente a ti
a olhar-te
estátua inacabada
pedaço de basalto
toscamente talhado
por um par de escultores
sem formação mas com gosto.
Numa fracção de segundo...
desejei tocar nessas formas
rudemente trabalhadas
e em nada graciosas ou belas
mas que não deixam de ser formas.
Numa fracção de segundo...
por debaixo dessa cor vermelha
do vestido simples e singelo
dei-me conta dos contornos
das peças mais íntimas
que te tapam o pudor.
Numa fracção de segundo...
imaginei passar as minhas
mãos por essas pernas
docemente depiladas
começar nos pés e acabar
um pouco mais acima.
Numa fracção de segundo...
senti-te em cima de mim
de joelhos no sofá
e enquanto passava as minhas
mãos nas tuas pernas, tu...
Numa fracção de segundo...
tu ias acariciando o meu couro cabeludo
num beijo quente e lascivo
como se nunca tivesses
sido tocada, acariciada, beijada,
da maneira que sempre desejaste.
Numa fracção de segundo...
imaginei-nos num mundo
paralelo a este, onde esse segundo
seriam minutos...
longas horas.
Numa fracção de segundo...
pequei na minha imaginação
e pela boca fui preso...
pelo que te disse
e afinal...
"pela boca morre o peixe"
lá diz o ditado.
Numa fracção de segundo...
não sei se pela roupa
ou tão pouco pelo cheiro
se foi por causa do que não vi
ou se pela cor branca e pura
que sem malícia
deixaste antever
nessa fracção de segundo...
foi tempo de mais.
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