Neste meu pequeno barco,
feito de madeira e pouco mais,
navego ao teu encontro,
neste mar azul, coberto
por um manto de nevoeiro branco e espesso.
Olho para cima e vejo a Lua
redonda e branca com um
olhar belo e sorridente.
Só vejo esse lado que me mostras.
O outro, escuro e sombrio,
só no futuro será possível ver o que esconde.
Já não é a primeira vez
que vou ao teu encontro.
Lembras-te quando me procuraste?
Estava eu no meu castelo das Cinco Torres,
e tu mandaste as tuas Pesarosas
ao meu encontro.
Terá sido obra do acaso ou do destino?
Tal como quando retirei a Excalibur da Pedra,
quero acreditar que foi obras do destino
e não premeditado.
Tal como o sobrinho de Carlos Magno
quando com a Durindana trespassou
uma pedra, ou trespassará?
Não importa!
Também tu me trespassaste
com as tuas palavras.
Nos teus pergaminhos de três linhas,
nem Merlin conseguiu alcançar
o significado das palavras que me dizias.
Como hoje, muitas vezes fui ao teu encontro
para contigo falar de tudo e falar de nada.
Que me perdoe a minha Dama e Senhora Guinevere,
mas só tu, por vezes, alcanças
o significado das minhas palavras.
Tal como eu te sirvo honradamente
com a minha Espada,
tu me confias os teus segredos,
até ao dia que não mais quiseres.
Estás longe, eu sei.
Mas aos poucos,
neste mar calmo e sereno,
lá vou chegar.
Quando deixo o meu castelo,
atravesso uma Pequena Ribeira,
onde nas margens vivem alguns súbditos,
segundo me dizem, um pouco soberbos.
Porque me lembrei disto agora?
Nem eu sei o que me passa
pela cabeça neste momento,
que navego em direcção a ti.
Honro a minha Dama e Senhora,
e tu a quem honrarás?
Tenho o anel do Poder
que me foi posto com o Coração.
Não, não sou o Senhor dos Anéis,
nem o Dragão que guarda a Torre
onde está guardada a Dama
Pura e Bela, para o Escolhido,
nem o Messias que tanto esperam.
Vou a caminho de ti, mais uma vez,
para, mais uma vez,
depois voltar ao meu castelo,
depois de repousar no teu regaço,
depois de saciar o meu ser,
a minha alma, a minha essência,
na tua areia branca, pura e cristalina.
Depois de, a custo, talvez como uma prova,
desbravar, novamente, a erva daninha
que te cobre e entrar por ti adentro,
percorrer todos os teus montes e vales,
rios e cascatas,
e chegar ao ventre de ti,
a esse local escuro e húmido,
iluminado pela graça de Deus,
com uma luz que cega os que não vêem.
Neste meu pequeno barco,
feito de madeira e pouco mais,
navego ao teu encontro,
neste mar azul coberto pela
noite escura e negra.
Mas que importa que
os meus olhos não te vejam?
Importa o que o meu coração vê;
importa o que ao longe tu vês,
dentro de mim.
Não importa quem sou ou o que sou.
No meu pequeno barco
de madeira e pouco mais,
ao longe estou.
Mas hoje vou aportar e ficar,
até que o meu povo precise novamente de mim,
como precisa de D. Sebastião,
...minha Ilha de Bruma,
...minha Avalon.
Simplesmente...
Artur.
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