Faz hoje precisamente 16 anos
Que por elas me apaixonei
Crianças indefesas
Que não eram tidas nem achadas
Apenas e tão só cresciam sozinhas
Conforme as mãos que os pegavam
Entregues à sua sorte
E sem ninguém para as compreender
Tinha pouco mais de 1 ano
Quando os conheci
Foram-me apresentados
De uma forma quase brusca
A despacha-los
Como quem ia de férias e não tinha tempo
Olhei para a 1ª criança
Que me tinham posto nos braços
Não era tão grande e pesada
Como as de hoje em dia
Mas lá cuidei dela conforme pude e sabia
Seguiram-se até hoje muitas mais
Umas mais fortes e entroncadas
Outras mais magras e simples
E outras mais complicadas e complexas
Perdi muitas horas de sono
Falei com pessoas entendidas
Li nos livros respectivos
E todas elas foram à sua vida
Salvo raras excepções
Não mais retornaram
Apenas os seus descendentes
Aparecem quando é tempo
Para tal
Sonhei que um dia poderia os adoptar
Não por prestígio ou vanglória
Apenas por paixão
Apenas por pensar que um dia
Estes filhos enjeitados e bastardos
Tivessem a atenção merecida
E deixassem de ser institucionalizados
Sei que durante estes 16 anos precisos
Dei o melhor que pude e sabia por eles
E se o sistema assim o permitisse
Dar-lhe-ia uma vida digna
E um futuro promissor
No entanto sei que estas crianças
Continuarão sem pai nem mãe
Porque não existem pessoas suficientes
Para cuidar delas quase em exclusivo
Termino com alguma alegria, apesar de tudo
Porque por causa destas crianças
Não sei por quanto tempo mas
Enquanto assim o acharem
Terei muito gosto em ser tratado
Por Paulo – o homem dos loteamentos
5 de Janeiro de 2011